Importação preocupa indústria farmacêutica

O futuro da indústria farmacêutica brasileira foi o tema de uma live promovida na última quarta-feira, 24 de junho, pela XP Investimentos. Três CEOs de laboratórios farmacêuticos foram unânimes em destacar a necessidade urgente de diminuir a dependência da China e Índia na importação das matérias-primas.

Para a CEO do Aché Laboratórios, Vânia Machado, a Covid-19 pegou todos desprevenidos no que se refere à projeção de volume. “Tivemos alguns medicamentos cuja demanda explodiu, como a Losartana, o que contribuiu para uma escassez mundial pelos princípios ativos”, afirma. Segundo ela, a carência atual é de anestésicos utilizados para ajudar na intubação dos pacientes. “Temos dois produtos nessa linha e vimos a procura multiplicar por cinco. Nesse cenário, a ajuda da Anvisa tem sido ainda mais estratégica”, avalia.

Vânia acredita que, sem uma política que efetivamente trate do custo Brasil, dificilmente se conseguirá levar adiante um projeto de implantação de uma indústria farmoquímica no país. “Existem várias etapas que vão continuar sendo fabricadas lá fora. Temos laboratórios nacionais que produzem IFAs, mas que cobrem apenas três ou quatro etapas. De qualquer maneira, sempre terão outras duas que continuarão sendo produzidas na China e na Índia”, afirma.

É preciso haver uma mudança de mentalidade, principalmente por parte da Anvisa. “A agência deveria transformar em definitivas medidas temporárias implementadas em função da pandemia. Exemplo disso é a RDC 348/2020, que expira em setembro e é essencial para agilizar o processo de prospecção de fabricantes de IFAs”, defende.

Questão de segurança nacional – Cleiton Marques, CEO da Biolab, também cobra uma nova mentalidade do governo federal, com o objetivo de enxergar a indústria farmoquímica como estratégica, assim como fez com a área de biotecnologia. “O que aconteceu aqui foi uma falta de valorização, com as matérias-primas sendo tratadas como commodities a preços ridiculamente baixos. Ao mesmo tempo, assistimos à China e à Índia ganharem este mercado mundialmente com uma quantidade enorme de incentivos fiscais. E agora, todos olham novamente para as pequenas moléculas percebendo que isso é uma questão de segurança nacional”, reitera.

Para se produzir esses insumos no Brasil, Marques aponta a importância de uma política de estado e não de governo. “É preciso oferecer incentivos para que a indústria possa ter competitividade e uma política de longuíssimo prazo”, ressalta. O executivo relembra as dificuldades enfrentadas pela própria Biolab há oito anos, quando a companhia teve de fechar uma indústria química de sua propriedade por barreiras financeiras.

Falta de previsibilidade e perda de relevância – Já Gaetano Cruppi, CEO da Bristol-Myers Squibb (BMS), considerou infeliz a decisão do governo de congelar os preços dos medicamentos. “Com a desvalorização do real, o custo em dólares da importação das matérias-primas aumentou demasiadamente. E o governo simplesmente quebra uma regra de preços que já é estabelecida com bastante antecedência, criando uma anomalia que dificulta a recuperação econômica do setor”, ressalta Cruppi. Na sua visão o país perde relevância na competição por um investimento pela falta de flexibilidade.

“Quando se trata de aportes em pesquisa & desenvolvimento, o mais básico leva de cinco a oito anos, com gastos que chegam a US$ 1,6 bilhão antes que se possa fazer um produto. Obviamente, a chance de se trazer investimentos no Brasil do ponto de vista de estudos clínicos cai muito por essa falta de previsibilidade”, explica o executivo.

Fonte: com informações Panorama Farmacêutico