Indicadores sugerem ritmo maior na atividade em junho

Os primeiros indicadores antecedentes disponíveis e a base reprimida de maio sugerem que o mês de junho será marcado por uma recuperação da atividade, após queda aguda no mês passado, como resultado da greve dos caminhoneiros. Apesar da expectativa de volta gradual à normalidade, os economistas estão divididos quanto às projeções para o segundo trimestre: alguns já esperam queda no Produto Interno Bruto (PIB), enquanto outros ainda veem variação positiva, ajudada pelos bons números de abril.

A maioria dos indicadores antecedentes de maio já estão disponíveis e pintam um quadro trágico. Segundo dados dessazonalizados pela Tendências Consultoria, a produção de veículos caiu 24%, o fluxo de veículos pesados nas estradas recuou 27,7%, a expedição de papelão ondulado despencou 22,7%, a produção de petróleo da Petrobras encolheu 2,2% e o consumo de energia foi 0,5% menor. Só a confiança do industrial subiu 0,1%, mas o período de coleta do indicador da FGV foi anterior a greve e, portanto, não captou seus efeitos.

Entre os antecedentes do varejo, a venda de veículos caiu 11,1%, o fluxo pedagiado de veículos leves encolheu 11,4%, o indicador Serasa de atividade do comércio recuou 2,3%, enquanto as consultas ao Usecheque e ao SPC tiveram baixas de 0,4% e 0,7%, respectivamente, e a confiança do consumidor teve perda de 2,8%, nas séries ajustadas pela consultoria.

“Para maio já há bastante informação e provavelmente veremos uma queda forte da indústria”, observa Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco. “A grande dúvida é o que vai acontecer depois, se será um efeito permanente ou temporário na economia. Aparentemente, com os poucos dados de junho disponíveis, será um efeito passageiro.”

Entre dados preliminares de junho já disponíveis, Salles cita a importação de produtos correlacionados com a produção industrial e o consumo de energia, que já registram altas de 12% e 1,2% neste mês, conforme números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e pela Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), ajustados pelo banco.

Segundo Lucas Souza, economista da Tendências, os dados de junho também deverão ser beneficiados pela base deprimida de maio. “É possível que as [variações nas] margens venham positivas, porque as margens de maio vão ser muito negativas”, avalia.

Para maio, o Itaú projeta quedas de 9,8% para a produção industrial, de 3,5% para as vendas do varejo ampliado e de 6,2% para a atividade de serviços. Em abril, os três indicadores surpreenderam positivamente (com altas de 0,8%, 1,3% e 1%, respectivamente), sugerindo que o segundo trimestre começava bem, antes de ser atropelado pelos efeitos do protesto dos condutores.

O PIB Mensal Itaú cresceu 0,6% em abril e o banco projeta uma queda de 2,1% para maio. Ainda assim, a instituição estima um crescimento de 0,6% para o PIB do segundo trimestre, na comparação trimestral dessazonalizada. Segundo Salles, isso se explica em parte porque o maior impacto da greve foi sobre a indústria, que tem menor peso no PIB (18,5% em 2017), em relação, por exemplo, ao setor de serviços.

A Tendências também espera um número positivo para o PIB de abril a junho, embora sua estimativa tenha sido reduzida para 0,2%, contra 0,8% no momento mais otimista. Segundo Souza, os números positivos de abril, a esperada recuperação em junho e algum efeito do saque do PIS/Pasep nos últimos dias deste mês devem contrabalançar em parte a queda de maio.

Mas já há quem veja um PIB do segundo trimestre negativo, caso do Bradesco e da GO Associados, ambos com projeção de queda de 0,3% para as contas nacionais no período. “Abril foi relativamente bom, mas junho provavelmente não devolve tudo o que foi perdido em maio, então uma parte [do que foi perdido] não vai ser compensada”, diz Luiz Castelli, economista da GO.

O analista projeta um recuo de 16,6% para a produção industrial em maio e tem viés de baixa para sua estimativa de um crescimento de 2% para o PIB em 2018. No boletim Focus, as estimativas do mercado já estão em 1,76%, em queda há sete semanas.

Fonte: Valor Econômico