Mesmo com queda operacional, Viracopos é o único aeroporto que cresceu sua Receita, em função dos produtos de alto valor agregado

A ABV já tem o fechamento de 2019 na carga internacional (importação + exportação)? Como o sr. avalia o ano de 2019 no setor de carga aérea internacional?

MARCELO MOTA – Fechamos o ano agora com 221 mil toneladas. Um pouco acima de 221 mil toneladas. Acabamos de fechar. Comparado com o ano de 2018 foi 241 mil toneladas. Então foram 20 mil toneladas a menos. Então ainda foi bom porque nós viemos de uma fase, de uma depressão muito grande no ano de 2015, 2016 e 2017. A carga afundou no Brasil, mesmo que aqui no nosso caso é mais importação exportação, mas deu um mergulho. Chegamos a 167 mil toneladas de carga. Agora que começou, em 2018 recuperou bem, mas 2019 foi um pouco inferior. Tiveram vários fatores, como a gente já vê aí: a própria disputa americana com China, que, nesse semestre, afetou muito a carga mundial, a gente até pegou alguns dados do valor com alguns números mostrando o quanto caiu. Essas estatísticas todas mostram que a carga no mundo, o rendimento da carga, a receita de carga caiu 5%, enquanto que o valor caiu 3% [dados mundiais], isso em 2019. Isso reflete no Oriente Médio, relação Estados Unidos e China; uma retração econômica mundial como um todo. A instabilidade política até aqui na América do Sul, também, Brasil. Argentina é a maior compradora, por exemplo, de veículos do Brasil. O mercado, a indústria brasileira depende da importação para a Argentina. A Argentina parou de comprar veículo brasileiro. Tem até uma reportagem recente também: na verdade, a gente compra insumos para a indústria automobilística brasileira. A indústria automobilística brasileira compra insumos do exterior, usa no mercado mecânico, o setor automobilístico é bem importante aqui para gente no Teca e esses segmentos tiveram uma queda e só usavam a indústria brasileira para montar carro para América do Sul e principalmente para Argentina. A expectativa da indústria automobilística brasileira é manter, em 2020, um mercado com demanda interna, porque a exportação ainda não vai ser em 2020. Tem muita importação para Venezuela também, em que tudo travou. Na verdade, a gente está aqui puxando alguns exemplos para ilustrar porque não teve o mesmo desempenho, apesar de viagens terem aumentado, a carga não tem acompanhado muito. Mas, bem melhor do que 2015, 2016, 2017.

A crise traz algum ensinamento para vocês do ponto de vista operacional, do ponto de vista de ajustar alguns pontos internos? 

MARCELO MOTA – Na verdade, nós fazemos esse trabalho já há alguns anos. Como teve essa depressão, mesmo – não vou dizer nem uma desaceleração -, em 2015, 2016, 2017, mesmo nesses anos a gente começou a perceber essa redução e nós começamos a mudar um pouco a estratégia comercial nossa. A gente focou muito em produtos de alto valor agregado. Então nós começamos, fizemos inclusive investimentos que permitissem a gente chegasse a oferecer para o mercado essas alternativas e atrair carga de alto valor. Nós fizemos toda uma ampliação gigantesca de câmeras frias, passamos de 13 mil metros cúbicos de câmeras frias para 21 mil metros cúbicos. Buscamos as certificações internacionais. Já temos há dois anos a certificação no Teca (Terminal de Cargas), para ISO 1001. Até nessa versão mais nova, de 2015, que tem um capítulo específico sobre gestão de riscos. E a gente aprimorou muito essa gestão de riscos e conseguimos nos certificar nessa versão nova que nenhum outro aeroporto no Brasil tem. Em função disso, nós também, nesse período, nesses últimos 2, 3 anos, nós nos certificamos também com a OEA; somos o único aeroporto brasileiro certificado com a OEA (Operador Econômico Autorizado). Então isso fez com que a gente também, ao ter certificado, a gente é considerado um aeroporto seguro e eficiente; a gente tem um pouco mais de 30 aduanas no mundo inteiro. Então nossos processos são expeditos por causa disso. A Receita Federal faz uma análise de gestão de risco. Como a gente tem a ISO 1001 e também certificados como OEA e isso faz com que 95, 98% dos nossos clientes OEA dão canal verde, então a carga passa direto, porque a gestão de risco é muito bem feita. Então a gente se preparou já no passado, então esses 3 anos de crise nos fizeram mais fortes, apesar de ter tido uma queda de volume nos aeroportos brasileiros nesses anos, o de Viracopos foi o único que manteve ou cresceu receita. Porque a gente compensou a perda de volume com carga de alto valor agregado, e isso nos deu uma receita maior. E oferecemos serviços diferenciados para indústria. Então tem muita coisa: farmacêutica – acabamos de receber em dezembro a CEIV Farma. Então, sim, a crise nos trouxe lições, mas esse 2018, 2019 foi um ponto de recuperação. Apesar de 2019 ter sido inferior a 2018, ainda foi um número significativo comparado com o passado recente.