Exportação bate recorde e anima setor automotivo
A prevalecer o ritmo atual daqui a três meses a indústria automobilística terá conseguido vender no exterior a quantidade de veículos que inicialmente previa exportar durante todo o ano. O esforço no exterior para compensar a crise no mercado interno tem surtido efeito em toda a América Latina e surpreende os dirigentes das montadoras. As vendas externas registraram recorde histórico em maio e no acumulado dos cinco primeiros meses do ano. O total de divisas obtido pelo setor de janeiro a maio alcançou US$ 5 bilhões, um crescimento de 57,2% em relação ao mesmo período do ano passado.
A demanda tem crescido com força em todos os mercados vizinhos. A Argentina continua a ser o principal destino e a expansão daquele mercado amplia a demanda por carros brasileiros. Mas o aumento das encomendas em outros mercados fez a fatia argentina nas exportações de veículos até cair, de 72% há um ano para 68% no mês passado. O México é o segundo maior comprador, com 13%. Outros países, que compravam pouco do Brasil no passado, já aparecem com fatias de 5%, como é o caso do Chile, e 3%, da Colômbia. Em um ano somente o Chile elevou as compras de veículos do Brasil em mais de 200%.
A tendência é a Colômbia passar a comprar ainda mais assim que um esperado acordo de intercâmbio comercial com o governo brasileiro for assinado. Um sistema de cotas garantirá vendas do Brasil para o mercado colombiano com isenção de Imposto de Importação e vice-versa.
Em maio foram exportados 73,4 mil veículos, o que gerou um receita de US$ 1,24 bilhão. O valor representou crescimento de 59,9% na comparação com maio de 2016. A direção da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) prepara-se para aumentar as projeções para o ano. Inicialmente a entidade projetava fechar o ano com 558 mil veículos no exterior, um crescimento de 7,2% em relação à 2016. Mas somente até maio já foram embarcadas 307,5 mil unidades.
A boa notícia da revisão da projeção para cima já poderia ter sido anunciada, já que a meta será facilmente ultrapassada. Mas o presidente da Anfavea, Antonio Megale, disse que preferia esperar os acontecimentos políticos dos próximos dias para recalcular projeções com mais segurança.
Em maio foram exportados 73,4 mil veículos, o que gerou um receita de US$ 1,24 bilhão
Apesar das incertezas na esfera política, o mercado interno também continua a dar sinais de melhora. Conta a favor, sobretudo, as expectativas criadas, segundo os dirigentes do setor, pela queda da inflação e a retração na taxa de juros básica. Em maio foram vendidos no Brasil 195,5 mil veículos, o que representou uma alta de 16,8% na comparação com o mesmo mês de 2016. Foram 824,5 mil unidades licenciadas no acumulado do ano, um aumento de 1,6% na comparação com igual período de 2016.
O dado mais positivo é o aumento do ritmo na média diária de licenciamento de veículos no país, que começou o ano com 6,6 mil unidades, passando para 7,1 mil em fevereiro, 8,1 mil em março, 8,7 mil em abril e 8,9 mil em maio. O aumento nas vendas internas e externas animou os fabricantes de veículos a acelerar as linhas de montagem. Somente em maio a produção aumentou 33,6% na comparação com igual mês do ano passado, com 237 mil veículos. No acumulado do ano, foram 1,037 milhão unidades, uma alta de 23,4% ante um ano atrás.
O nível de estoques manteve-se equilibrado em relação ao mês anterior. A quantidade de veículos nos pátios das fábricas e concessionárias é suficiente para 33 dias de vendas internas. Isso significa, diz Megale, que tudo o que foi produzido em maio foi vendido.
A indústria automobilística também parou de demitir e até registrou ligeira alta na quantidade de postos de trabalho, de 0,3% no mês passado na comparação com abril. O quadro efetivo é, no entanto, 7,5% menor do que há um ano. Além disso, 10,8 mil trabalhadores, de um total de 103,4 mil, continuam afastados das fábricas por meio de programas como “layoff”.
Preocupa a direção da Anfavea o fato de que a ociosidade ainda passa de 50% nas fábricas de automóveis e chega perto de 80% na de caminhões. O cenário no mercado de caminhões é menos ruim do que no início do ano, quando as vendas apontavam para uma queda de 33% na comparação com um ano atrás. Agora a retração está em 19%. Para o vice-presidente da Anfavea para essa area, Luis Carlos Gomes de Moraes, as reformas são essenciais para a volta da atividade. “O país tem pressa e esperamos que Brasília perceba isso”, disse.
Fonte: Valor Econômico