Viracopos: uso do terminal de cargas cai pelo 2º ano, mas receita aumenta

Exportações e importações pelo terminal de Campinas diminuíram em 2015. Alta do dólar e investimentos foram ‘compensatórios’, afirma concessionária.

As operações no terminal de cargas do Aeroporto Internacional de Viracopos diminuíram pelo segundo ano consecutivo em 2015, de acordo com estatísticas divulgadas pela concessionária gestora. Por outro lado, o terminal encerrou o ano com alta na arrecadação obtida neste setor.

A estrutura instalada em Campinas (SP) contabilizou 52,1 mil toneladas de materiais exportados durante o ano passado, queda de 15,9% no comparativo com 2014. Neste mesmo período foram registradas 124,4 mil toneladas de produtos importados, retração de 20,4%. O levantamento mostra que, em dezembro, o aeroporto registrou movimento mais baixo desde janeiro de 2013.

“Os dados do terminal de cargas refletem a atividade econômica do país. Todos nós sabemos que caiu muito e também há previsão de retração do PIB  até o fim deste ano. Apesar disso, tivemos dois efeitos compensatórios no período”, explicou o diretor de Operações, Marcelo Mota, ao ponderar sobre aumento da arrecadação com as atividades.

As receitas com as operações subiram 14% em 2015, e Viracopos elevou desempenho nas receitas do país. A participação nas importações foi de 7,4% para 7,9%; e o índice das exportações subiu de 1,5% para 1,7% no ano anterior, informou a concessionária sobre dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Entre os efeitos “compensatórios” nas finanças do aeroporto, explicou Mota, está  o maior avanço anual registrado em 13 anos, de acordo com levantamento da Reuters. De janeiro a dezembro o valor foi de R$ 2,68 a R$ 3,94.

“O dólar fez com que a receita aumentasse mais do que o esperado. Mas isso, a longo prazo, também criará desestímulo para importações e começa a gerar problemas para a economia”, avaliou. Outro ponto destacado por ele foram investimentos de Viracopos para suprir demandas de mercado, incluindo ampliação das câmaras frigoríficas. O aeroporto também conta com estrutura móvel para tratamento fitossanitário da madeira bruta que sai ou entra ou deixa o país.

“Até o fim do contrato de concessão nós queremos triplicar o volume de cargas que passam pelo terminal. Mas a ideia é que elas representem um terço das receitas, outro terço seja obtido com as atividades aeroportuárias e o restante sejam comerciais, incluindo lojas”, destacou Mota. Atualmente, as operações do terminal de cargas representam 52% da fonte de arrecadação.

Para ele, o resultado será alcançado com desenvolvimento e oportunidades de novos negócios. “Devemos inaugurar em fevereiro, por exemplo, a primeira sala cofre de alta segurança. É algo que não existia e gera competitividade”, destacou o diretor sobre a estrutura que deve ser considerada a mais completa em aeroportos na América Latina.

Mota ainda destacou que os investimentos se baseiam no modelo aeroporto-indústria e prevê novos diferencias para elevar receitas.

“O antigo terminal será transformado em terminal de cargas domésticas, uma oportunidade para escoamento interestadual”, contou ao citar previsão de expandir serviços. O aeroporto também deve contar na área nordeste com novos galpões de logística e manutenção.

Diferença de cálculos – Enquanto as exportações são cobradas com base no peso da carga, o uso do terminal para logística de produtos comprados fora do país implica em taxas diferenciadas.

A primeira, informou a assessoria da concessionária, é feita considerando-se a soma do valor agregado do item e tempo em que ele fica no terminal (cargas importadas e nacionalizadas em Viracopos); enquanto que a segunda cobrança, para cargas classificadas como DTA (declaração de trânsito aduaneiro), é feita com base no peso movimentado internamente.

Situação acirrada – O diretor regional do Centro das Indústrias do estado de São Paulo (Ciesp), José Nunes Filho, avaliou que a queda de operações no terminal de cargas em Viracopos reflete enfraquecimento das companhias. De janeiro a outubro do ano passado, as 500 empresas atendidas pela entidade, em 19 cidades, fecharam 1,9 mil postos de trabalho. O balanço total sai em fevereiro.

“A alta do dólar levou outras taxas para cima e agrega mais valor aos produtos. Daí sofremos com a concorrência, porque outros países têm mão-de-obra qualificada e conseguem produzir itens mais baratos, sobretudo os componentes importados pelas indústrias automobilísticas”, falou o diretor de operações. Segundo ele, a perda de mercado repercutiu em cortes de vagas e formação de um ciclo.

“Com mais desemprego, há menos consumo e isso se repete. Por enquanto, a expectativa é de que a situação seja acirrada, com queda no PIB e mais demissões. Aqui [região] há perfil mais importador que exportador”, falou.

Fonte: GLOBO.COM