Aeroporto de Guarulhos tem gargalos em transporte de carga com aumento de mercadorias, diz Jornal

Uma matéria na Folha de SP, veiculada na sua versão impressa que circulou no último domingo, 12/05, Caderno Mercado, Pág. 8, trouxe uma reflexão sobre os recentes atrasos na liberação de carga no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos. Confira a íntegra da Reportagem de Joana Cunha.

Cumbica tem gargalos em transporte de carga – O terminal de cargas do aeroporto internacional de Guarulhos, maior complexo logístico aeroportuário do Brasil, tem enfrentado gargalos para lidar com o aumento do volume de mercadorias.

Em abril, a concessionária GRU Airport voltou a registrar acúmulo de cargas nos armazéns de importação e exportação, uma situação que já havia atravessado em novembro.

O gargalo acontece no momento em que o aeroporto registra crescimento na movimentação. Com 30,6 mil toneladas, março foi um dos melhores meses da concessão —ante 24,9 mil em fevereiro e 20,9 mil em janeiro.

Do total no mês, quase 14 mil toneladas foram itens importados. A maior parte das cargas nacionalizadas são produtos automotivos (29%), farmacêuticos (18%), maquinário (16%) e eletrônicos (9%). O terminal encerrou o primeiro trimestre com mais de 50% de participação de mercado em carga aérea internacional.

Terminal de cargas de Guarulhos, que é maior complexo logístico aeroportuário do Brasil – A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) diz que tem acompanhado “com preocupação os reiterados episódios de problemas na prestação de serviços pelo terminal” relacionados aos atrasos para recebimento e entrega das cargas. “Desde novembro, a agência vem formalmente solicitando medidas do aeroporto a respeito dos episódios e, diante da ausência de uma solução definitiva, avalia as providências administrativas cabíveis”, afirma em nota.

João Pita, diretor comercial da GRU Airport, diz que o acúmulo mais recente foi causado pelos feriados de Carnaval e Páscoa. Segundo ele, o fluxo de entrega das mercadorias cai nos feriados porque os transportadores e indústrias fecham, ou seja, os donos das mercadorias atrasam para buscá-las.

No início de abril, a concessionária enviou comunicado aos transportadores e importadores pedindo que se programassem para receber suas cargas diariamente, inclusive nos finais de semana.

De acordo com o executivo, o acúmulo foi solucionado e, desde o dia 16 de abril, já não há excesso de mercadorias no local. Mas o tempo de processamento nas áreas de recebimento, armazenagem e liberação tem se alongado. O prazo médio de 6 a 7 dias que o produto ficava nos armazéns subiu para 12 a 14 dias.

No esforço de evitar o problema vivido no fim do ano passado, Pita afirma que reduziu a quantidade de mercadorias que recebe diariamente para conseguir processar as entregas.

Em novembro, diz ele, a situação foi causada por mudanças no sistema de importação da Receita Federal e houve um período de aprendizagem, além dos feriados e alguns dias em que o sistema esteve fora do ar.

“A gente não foi tão prudente, não diminuiu o caudal de recebimento, e a situação deixou de estar controlada. Aprendemos com isso e agora conseguimos tranquilamente controlar a situação e resolver de forma mais rápida e eficaz. Receber esse volume de carga é bom, mas tem seus desafios”, diz.

Segundo Pita, algumas cargas chegam em diferentes voos e precisam esperar o lote todo. Outras chegam em pallets de madeira e têm de aguardar a Vigiagro (vigilância agropecuária).

“Eu diria que é um acúmulo de coisas que, sozinhas, não têm problema, mas quando junta criam uma massa que gera desafios. Mas contratamos quase 15% a mais de pessoas e temos cerca de 500 pessoas trabalhando no nosso terminal de carga”, diz o executivo.

Ele afirma que a companhia está preparada com plano de contingência e que a infraestrutura evoluiu com os investimentos realizados ao longo da concessão, com 24 câmaras frias, expansão do armazém de exportação e automação.

Também houver um investimento com a Brookfield em 250 mil metros quadrados de armazém, sendo que 50 mil metros já foram entregues.

“Todos temos que fazer melhor. O aeroporto tem que se capacitar, mas também toda a cadeia logística, isto é, nós precisamos funcionar sete dias na semana, entregar carga aos domingos. Só assim o sistema é eficiente. Se você recebe sete dias e entrega cinco, fica em defasagem operacional. Nos cinco dias do Carnaval, não entregamos o que costumamos entregar em um dia, mas continuamos a receber. Ficamos com quatro dias de atraso. Depois, precisa ter gente e estrutura para recuperar. É algo difícil em qualquer processo logístico”, diz.

A Abclia (Associação Brasileira dos Centros Logísticos e Industriais Aduaneiros) afirma que os clientes do terminal de cargas não estão atrasando a retirada, até porque isso eleva o custo do serviço.

Felipe Vieira, advogado da entidade, diz que vê muito poder concentrado em Guarulhos e pede que a Receita e a Anac promovam a redistribuição dessas cargas recebidas pelo aeroporto para as unidades alfandegadas e portos secos do estado de São Paulo para fazerem a nacionalização das mercadorias.

“Na nossa visão, chegou o momento de a Receita, que é a responsável pelas cargas alfandegadas, fazer uma modificação na norma que permita que o escoamento seja imediato e não precise de funcionários de Guarulhos ou de tomada de decisão do aeroporto para ter fluxo”, diz Vieira.

Procurada pela reportagem, a Receita Federal afirma que os gargalos recentes foram um problema pontual e diz que “tomou medidas cabíveis para uma interferência mais enfática, buscando prevenir a recorrência de tais situações no futuro”.

Em nota, o órgão diz que “tem trabalhado em conjunto com a concessionária para resolver a questão, tanto no aprimoramento dos sistemas de gestão de carga quanto na locação de maiores espaços e melhor aproveitamento do espaço existente”.

A Anac recomenda que os usuários prejudicados pelos atrasos registrem suas queixas para ajudar no acompanhamento do caso e embasar as providências administrativas a serem realizadas pela agência.

Além da questão logística, o aeroporto enfrentou nos últimos meses a paralisação de cargas provocada pela greve dos fiscais, encerrada em fevereiro, que também suspendeu o desembaraço em diversos portos e aeroportos do país”, encerra a matéria que também foi veiculada na Folha OnLine, no sábado, 04/05.