Gabinete de Segurança Nacional da Presidência da República montará um plano de segurança para aeroportos

E a segurança? Como estão esses processos sobre a questão da imagem? Como está o status dessa situação hoje?

 

MARCELO MOTA – Nossa posição tem sido muito clara. A gente diz que o aeroporto é extremamente seguro. “Mas como ele é extremamente seguro se existiram dois assaltos dessa  natureza?”. Bom, nossa posição é a de que um poder de fogo desses, um crime organizado dessa forma assalta qualquer coisa no Brasil. Se um grupo armado desses quiser invadir a casa da moeda, quiser invadir a sede do governo de São Paulo, quiser atacar, vai acontecer. O grupo que entrou aqui tinha duas metralhadoras .50, fuzis, mais  de 20  pessoas, quase 30 veículos blindados e utilizados na operação da fuga, eles bloquearam as rodovias…Isso até nos lembrou um pouco um assalto que teve na Proteje. O pessoal ali, não sei quantos vigilantes tinham ali armados até os dentes. Entrou, teve tiroteio, explodiu, invadiu, roubou, feriu gente e saiu, porque o poder de fogo é muito grande. Então o problema não é a segurança do aeroporto, é um problema de segurança pública. E a gente colocou as ações do aeroporto e, no fim, apesar de ter ocorrido o assalto, acabaram por frustrar os planos dos bandidos. A gente tinha feito uma instalação recente de dilaceradores de pneus.

Os bandidos, quando passaram e viram que iam perder a janela de oportunidade, porque tinham que entrar naquele momento em que carga estava desembarcando, eles chegaram no portão e disseram “abaixa o dilacerador de pneu porque nós temos uma operação da força aérea aqui para fazer” e a gente disse ”não podemos abaixar os pneus” e aí eles entraram com tudo. Entraram com dois veículos e rasgaram os pneus dos dois veículos. Então eles sairam com os pneus cortados, foram andando e um deles não aguentou, parou no meio do caminho e só metade da quadrilha foi para lá, mesmo assim com os pneus cortados. Aqui tinham 3 carros fortes. Antigamente a gente operava com um veículo de carro forte somente.

Depois do assalto do ano passado – retrasado, agora –  a gente começou a fazer a operação com de 3 a 5 carros fortes. E esse é um procedimento que, quando tem uma suspeita de assalto, eles tem um processo de giro no pátio e abarroar o carro do suspeito. Então eles fizeram isso. Tanto é que eles “empanquecaram” um carro: um carro forte veio pela frente, o outro veio por trás e esmagou o carro dos bandidos. Eles soltaram, atiraram, mesmo com os veículos sendo blindados, com a .50 ele perfurou, atingiu a bacia de um dos vigilantes, a bala furou tudo, entrou, atingiu. Mas aí o que aconteceu: eles estavam só com metade da quadrilha, a outra metade chegou a pé correndo depois. Pegaram um carrinho, um Corsinha que a gente tinha no pátio de uma outra empresa aqui, foram para lá, chegaram lá, já tava com tiroteio, não tinham o que fazer e fugiram. Pegaram dois malotes, somente, de dinheiro e ai não tinham o carro de fuga e entraram 7 pessoas, 2 metralhadoras, fuzis e 2 magotes de dinheiro em um Corsinha.

Fugiram, conseguiram fugir, mas, nesse tempo em que eles estavam aqui a Polícia Militar foi acionada, a Polícia Federal foi acionada, vieram quando eles estavam fugindo no Corsinha, encontraram o grupo da Polícia Militar disparou 89 tiros no veículo que já não era blindado, atingiu um dos bandidos nesse momento e eles fugiram. Mas aí já estava toda a polícia mobilizada e não deu certo. Recuperou todo o dinheiro, matou 3 vagabundos e é isso…Acho que isso não chegou a ser de conhecimento maior, mas a própria estrutura do aeroporto frustrou parte do processo deles. Então a gente considera que o aeroporto é seguro, sim, mas não tem instalação no Brasil hoje que, se um grupo desses for atacar, ele entra…Então isso não é uma questão simplesmente para se defender.

A gente colocou: as medidas de segurança nossas…a gente tem 1300 câmeras, nós temos  uma companhia da Polícia Militar aqui dentro com 120 homens, temos uma delegacia da Polícia Federal com armamentos pesados, tem delegacia da Polícia Civil, dilacerador de pneus nos portões, mais de 80 vigilantes aqui… [Lembrando que nos 2 últimos anos eles entraram também em Guarulhos e no Galeão, então não foi uma questão isolada ou uma presa preferencial por falta de segurança] Nós tivemos reuniões, depois disso tudo, com o Gabinete de Segurança Nacional da Presidência da República, que está montando um plano nacional de segurança para aeroportos, uma reunião com a própria Secretaria de Aviação  Civil com todos os órgãos envolvidos de segurança pública e de todos os aeroportos e tá mostrando que todos os grandes terminais brasileiros foram assaltados. A gente já pensou, só para dar um exemplo, muita gente pergunta o porquê de usar o dilacerador de pneus, porque mesmo com o dilacerador de pneus os bandidos entraram.

Tudo bem que entraram mas não tinham como fugir. “Mas e aqueles pinos pneumáticos, porque vocês não instalam isso?”. A gente não tem problema nenhum em instalar isso, o problema é que se instalar um negócio desses aqui no portão você tem que subir com o veículo cheio, tem que fazer toda a verificação, abaixar…O tempo de subir e baixar é muito grande e vai começar a criar transtorno operacional. Mas aí você diz “ah, mas pela segurança vale a pena”. No penúltimo assalto o pessoal não entrou pelo portão, ele apresentou a cerca e ameaçou. Então eu posso até colocar isso aqui e vai ser até mais um detergente, mas não é isso que vai impedir porque o cara entra pela cerca. “Ah, mas porque vocês não colocam um sensoriamento remoto da cerca? Existem umas tecnologias que voce interna um cabo que, quando o carro passa pela cerca, ele acusa que passou o veículo e da alarme”. Isso podemos fazer, mas, primeiramente, imagina o custo de rodear 26 km quadrados com um sistema desses. A gente já pegou um orçamento e dá mais de 20 milhões de reais para fazer um sistema desses. Tudo bem, se resolver a gente faz um sistema desses. Mas esse cara que passou pela cerca entrou, fez o assalto e saiu em 6 minutos.

Se tivesse dado alarme aqui no centro de operações e em todo veículo, rompeu a cerca e você aciona a Polícia Militar e Federal, eles saem do prédio e chegam até esse local: dá mais de 6 minutos. Então não tem como; você faz o investimento e não resolve. Se tudo isso ajuda, vamos começar a instalar esses negócios, mas não impede se um grupo desses quiserem entrar em qualquer aeroporto brasileiro. Disso tudo, o que tem que ser trabalhado é a inteligência, controle de fronteira para evitar arma pesada, tráfico de arma e tráfico de drogas. É isso que tem que ser trabalhado, porque enquanto você não tiver isso, não importa a medida de segurança que você adote. Então lógico que é uma combinação. Em tudo isso e a gente tá fazendo a nossa parte, mas querer – a gente até colocou em nota oficial – querer imputar ao aeroporto da segurança para um grupo desses não é justo.