Brasil atinge recordes de exportação de petróleo
As exportações brasileiras de petróleo superaram, no início deste ano, a barreira de 1 milhão de barris diários num mês, pela primeira vez desde dezembro de 2010, quando haviam alcançado 1,27 milhão de barris/dia. De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), as vendas para o exterior atingiram, entre janeiro e março, a maior média trimestral da história: 1,23 milhão de barris/dia, o que representa uma alta de 56% ante igual período do ano passado.
Em fevereiro, foram exportados 1,55 milhão de barris diários de petróleo cru, a maior média mensal da série histórica da ANP, que começa em 2000.
Segundo o ex-diretor da ANP e pesquisador da UFRJ, Helder Queiroz, dois fatos podem explicar o salto das exportações brasileiras. O primeiro deles é a recessão, que faz com que a Petrobras esteja processando menos óleo nas refinarias brasileiras, como reflexo da queda da demanda interna. De acordo com a ANP, o mercado de combustíveis do país caiu 4,5% em 2016. O segundo é que parte da demanda interna tem sido coberta pelas importações de derivados, o que aumenta a disponibilidade de óleo nacional para exportações.
Este mês, o diretor de Refino e Gás da companhia, Jorge Celestino, já havia afirmado que o crescimento das exportações é um movimento estrutural. “A Petrobras tem se tornado cada vez mais exportadora líquida de petróleo”, afirmou o diretor.
A estatal responde por 46% das exportações brasileiras de petróleo. A maior parte dos embarques é feita principalmente pelas multinacionais – Shell, Statoil, Petrogal e Chevron são algumas das empresas que detém registro na ANP com autorização para exportar.
No primeiro trimestre deste ano, a Petrobras exportou 609 mil barris diários de óleo, quase o dobro do apurado em igual período de 2016, de 307 mil barris diários. Na mesma comparação, a exportação líquida da estatal cresceu de 108 mil barris diários para 516 mil barris diários, uma alta de 378%.
Ontem, o gerente-executivo de Comercialização e Marketing da Petrobras, Guilherme França, afirmou que a petroleira brasileira espera aumentar em 30% a média de exportações este ano, para 503 mil barris diários. Para 2021, a meta da companhia é atingir 742 mil barris diários de embarques para o exterior.
Segundo o gerente-executivo, a China é o principal destino das exportações da Petrobras, respondendo por mais da metade dos embarques da companhia, cerca de 56%. “A China tem aumentado suas importações e vai intensificar a importação do petróleo da Bacia do Atlântico”, afirmou França, na Argus Crude Conference, evento do setor petrolífero, no Rio.
Ele comentou, ainda, que o aumento das vendas para a China é uma tendência que independe das condições do contrato de financiamento assinado pela estatal com o China Development Bank, no valor de US$ 5 bilhões. Na ocasião, a brasileira fechou também um acordo comercial com três companhias chinesas – ChinaOil, China Zhenhua Oil e Chemchina Petrochemical – com previsão de fornecimento preferencial de um volume de 100 mil barris/dia, “atendidas as condições de mercado”.
Presente ao evento da Argus, o vice-presidente de Comercialização e Suprimento de Óleo Bruto da anglo-holandesa Shell, Mike Muller, também avalia que o Brasil está em uma trajetória “expressiva” de crescimento nas exportações de petróleo e vem se tornando uma peça-chave para o mercado global, fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
“O Brasil está numa trajetória de crescimento, o pré-sal está bem competitivo, porque a Bacia de Santos foi abençoada pela natureza. A geologia não é tudo, mas é um ponto de partida quando considerado o custo de produção”, afirmou o executivo.
Segundo o diretor de óleo e gás da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), José Mauro Coelho, a produção brasileira deve atingir os 5 milhões de barris/dia em 2026, o que abre espaço para que o país exporte entre 1,5 milhão e 2 milhões de barris diários.
Queiroz, da UFRJ, atenta para a participação maior do Brasil no mercado mundial de petróleo e que esse movimento, de certa forma, poderá influenciar decisões futuras da Opep sobre o nível de produção de óleo de seus membros. Hoje, o cartel se reunirá, em Viena, na Áustria, para decidir se mantém os cortes de produção.
Apenas para efeito de comparação, considerando a média da exportação bruta de petróleo do Brasil no primeiro trimestre de 2017 e o total das vendas externas dos principais exportadores em 2015 (último dado disponível), o Brasil ocuparia o 12º lugar no ranking, atrás da Noruega.
Em artigo publicado no blog “Infopetro”, Queiroz afirma que “o Brasil continua a ser um importador de petróleo bruto, dadas as características do seu parque de refino e a consequente necessidade de processar um mix de óleos leves e pesados. Porém, como a carga processada tem diminuído, as exportações líquidas (exportação menos importação) tem registrado igualmente valores muito expressivos e uma posição exportadora que se consolida, pouco a pouco, no mercado internacional”.
O ex-diretor da ANP lembrou que a posição brasileira frente aos integrantes da Opep é “peculiar”, já que o cartel responde por 90% das importações de óleo do Brasil. “Por outro lado, o aumento da produção e exportações brasileiras torna o Brasil um novo competidor dos países da Opep no cenário internacional do petróleo”, ressaltou Queiroz, no seu artigo.
Fonte: Valor