O Caos no Terminal de Cargas em Guarulhos fará o mercado e as autoridades olharem para os Portos Secos?
Por Ricardo Drago – Presidente do Grupo AGESBEC
Uma cena, registrada na semana passada, na imagem abaixo, ligou um alerta para quem trabalha há muito tempo com o comércio exterior. O momento, com as cargas no pátio de aeronaves, remete ao boom de importação que ocorreu por volta do ano de 1994, no Brasil. A abertura comercial promovida no País nos idos de 1990, proporcionou um crescimento econômico, estimulando o comércio internacional e facilitando o ingresso de mercadorias estrangeiras em nosso mercado e em insumos.
Naquele período, com o crescimento desenfreado das importações brasileiras, as cargas ocupavam os espaços destinados ao estacionamento dos aviões, nos pátios dos aeroportos. Caixas eram perdidas nesses locais. Intempéries se incumbiam de acabar com o que sobrava. Os aeroportos, administrados pela Infraero naquele longínquo tempo, não conseguiam atender à demanda e construir armazéns para abrigar a carga excedente, por conta da falta de agilidade necessária, que esbarrava no engessamento das licitações enquanto empresa pública.
O cenário identificado, nesta semana, no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (foto), fez lembrar os anos 90.
Um Informativo do SINDASP – Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de São Paulo – que leva o nome Última Hora, trouxe 11 irregularidades em gargalos naquele Terminal Aéreo. A Entidade que representa essa importante categoria também divulgou em suas mídias sociais este fato, que transcrevemos aqui um trecho, haja vista que o documento é público:
- Ausência de atracação das mercadorias;
- Utilização da área de conferência para armazenamento irregular de carga, dificultando e atrasando a conferência física;
- Puxe de carga realizada pelo fiscal, sem disponibilização para conferência física;
- Puxe de carga realizado pelo MAPA para inspeção da madeira, sem disponibilidade da carga;
- Ausência de respostas aos e-mails enviados para CCO e CAC;
- Ausência de atendimento na linha telefônica: (11)2445-5000;
- Ausência de disponibilização da carga puxada para coleta. A título de exemplo, uma carga do dia 10/11/2023 ainda não foi coletada;
- Fechamento de janelas para agendamento de coleta para transportadoras;
- Ausência de manutenção do sistema, sem previsão de retorno;
- Ausência de organização, gerando imensas filas de veículos aguardando a coleta de carga, sem previsão para tanto;
- Atração incompletas de carga sem justificativas fundamentadas ou, ainda, previsão de solução;
A AGESBEC, em uma ação espontânea e em nome do mercado, se uniu a essas frentes e apoia também um documento do SETCESP – Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região, pedindo imediatas ações junto a GRU AIRPORT pela ausência de estrutura e profissionais, o que é inaceitável em épocas de fim de ano.
Infelizmente são em momentos como este que podemos observar o quanto ainda estamos atrasados na descentralização de cargas no Estado de São Paulo. Enquanto a estrutura do Aeroporto de Guarulhos está em colapso logístico, os Recintos de Zona Secundária de São Paulo, como o Porto Seco AGESBEC – Armazéns Gerais São Bernardo do Campo, estão com ociosidade.
Os Portos Secos sempre estiveram prontos e com infraestrutura e atrativos diversos para receber as cargas na importação e exportação, senão vejamos alguns pontos, como:
- Espaço e Infraestrutura disponíveis
- Gerenciar a logística aduaneira – receber mercadoria, montagem, etiquetagem, separação, picking, armazenagem e distribuição;
- Benefícios Fiscais em Regimes Aduaneiros Especiais
- Agilidade do desembaraço aduaneiro;
- Menor volume de carga;
- Redução dos custos com armazenagem;
- Redução dos custos com transporte;
Espero sinceramente que o mercado e as autoridades passem a enxergar os Portos Secos com outros olhos. Com olhar de oportunidades de quem sempre esteve pronto para atender. Se não for no amor, que seja na dor.
Ricardo Drago é Presidente do Grupo AGESBEC
Artigo publicado primeiramente pelo Portal Tecnologística