O Cobre Chileno

Por Ricardo Drago – Presidente AGESBEC

 O Chile vive como outros países do continente sul-americano uma reorganização social, política e econômica.

Com uma economia fortemente voltada a extração mineral principalmente pelo cobre, famosa pela produção de vinhos, sem uma indústria de base e com forte fluxo de importação de bens e consumos já foi uma das economias mais sólidas do cone sul, mantendo por anos o maior índice de renda per capta do continente.

 

POLÍTICA

Entre transições de governos de direita e esquerda, tem mantido o equilíbrio do jogo político na divisão de momentos e que agora com um governo mais liberal e de esquerda tentou aprovar uma nova alteração da constituição que foi negada com base no referendo.

 

ECONOMIA

A economia chilena amarga os piores resultados das últimas décadas.

A reboque de todas as economias globais a inflação atingiu em junho 12,5% no acumulado em 12 meses, o maior valor desde 1994.

O peso chileno sofre grande desvalorização frente ao dólar, sendo a primeira vez na história que a marca dos mil pesos foi ultrapassada. Por trás desse cenário, especialistas apontam uma combinação de fatores domésticos e externos que agravaram o quadro inflacionário do país, indo desde a alta global dos combustíveis até uma incerteza política.

 

CAUSAS

A situação da economia do Chile, é uma combinação de exterior e interior, mas sem dúvida há um grande componente doméstico nessa inflação, o superaquecimento da economia chilena, com um forte crescimento do (PIB), refletindo estímulos fiscais “exagerados” concedidos pelo governo durante a pandemia, além da pressão de demanda, destacando um quadro de incerteza política e institucional no país, que começou em 2019, onde os chilenos foram às ruas demandando melhores condições de vida e uma nova Constituição, que fez o então presidente Piñera, convocar um referendo que aprovou a criação de uma Assembleia Constituinte. Somadas às incertezas quanto a aprovação da Constituição, e uma insatisfação do mercado com o seu conteúdo  a transição entre Piñera, de centro-direita, para o atual presidente, Gabriel Boric de esquerda com uma agenda de “profundas mudanças”, pretende aprovar uma proposta de aumento de carga tributária para financiar uma “agenda ambiciosa de gastos”, o que não foi bem recebido por investidores.

O cenário impacta diretamente no câmbio, com aumento de percepção de risco e desvalorização do peso, o que também piora a inflação, que com a forte queda nos preços do cobre (principal produto de exportação do Chile), o que desvalorizou a moeda, além das críticas do mercado à atuação do banco central chileno, com uma alta de juros menor que o esperado, o peso chileno despencou, e a autarquia precisou intervir no mercado de câmbio em meio à saída de capital estrangeiro, injetando dólares no mercado para conter a alta da moeda. A taxa chilena iniciou o ciclo de alta em 0,5% ao ano. Hoje, está em 9,75%, maior nível em 24 anos.

 

PERSPECTIVAS – Uma evolução positiva da taxa de câmbio aliviaria a situação atual do Chile, já que a transmissão de desvalorizações da moeda nos preços é elevada pelo forte volume de importações. Em um cenário de preços de custos altos pelo câmbio e demanda superaquecida, a inflação tende a não cair rapidamente sem que o BC atue de maneira a equilibrar o consumo, uma vez que não tem fraqueza de reservas internacionais, então pode se dar ao luxo de acomodar esse ajuste do câmbio reduzindo reservas, mas a política monetária precisa fazer o que tem que ser feito, tudo para que não se prolongue essa agonia e incerteza sobre o país.