O Tango Argentino

Por Ricardo Drago*

Tenho acompanhado a Economia Argentina a muitos anos, que em linhas gerais sofre os reflexos pela crise de crédito após ter dado vários calotes em títulos de credores internacionais e principalmente junto ao FMI, sem uma alternativa de curto prazo tenta rolar um problema até agora sem solução, passando do internacionalmente conhecido TANGO para mais uma TANGA financeira.

No histórico deste longo caminho que aflige a economia argentina, destaco o último grande impacto em 2001, quando declarou que não ia pagar US$ 100 bilhões de sua dívida pública, em 2005 houve uma renegociação e 90% dos credores que aceitaram a proposta, os outros 10% os chamados fundos abutres negaram e judicializaram, obrigando a Argentina a pagar.

Daí por diante a crise não parou e o reflexo se deu nas ações de governo, na politica fiscal, na crise econômica, no fluxo cambial, enfim na crise sistêmica que a cada ano deflagra o empobrecimento desta nação que já foi a mais ricas da América do Sul.

PREÇO CUIDADO” – Hoje a Argentina se depara com o tabelamento de preços, em Junho os preços subiram 5.3%, no acumulado de 12 meses a alta chega a 64%, que alerta para o pico de inflação que em 2003 era de 10.5% e em 2022 tende a 90.2% (projeção) e que em 5 anos elevou de 17,9% para 37.5% da população que vive abaixo da linha de pobreza.

MOEDA – A Crise Cambial é outro problema, a falta de moeda forte tem fragilizado ainda mais todo o processo de crise, as reservas cambiais que em 2003 era de 14.1 BI, o atual Governo recebeu em 2019 com 44.9 BI e agora em 2022 tem 32.4 BI (junho) (-28% de perdas em 3 anos).

Enquanto o Brasil com o Real em 1994, chegou ao marco de parear ao dólar, mantendo a flutuação do câmbio, e hoje após 28 anos, beiramos os R$5.20. A Argentina com o Peso em politica mais dura aplicou a mesma paridade de 1991 até 2003 mantendo o cambio fixo, o que fez sangrar a economia a época com quebra de contratos e ‘corralito’, mas depois teve superávits externos e fiscais, com estabilidade de preços, batendo recordes no Governo Macri, em 2017 alcançando PIB de US$642 BI, em 2018 atingiu US$66.2BI em Reservas Cambiais e agora no Governo de Alberto Fernandez após 31 anos da paridade monetária, o câmbio oficial é de ARS$135 por dólar e no paralelo Dólar Blue de ARS$200 por dólar, com inflação de 64%a.a. e Balança Comercial negativa com Déficit em Julho de USD-115 milhões.

É realmente um grande desafio gerir a atual crise e o sofrimento da sociedade argentina, é impactante pois não reflete o grande potencial social, econômico e cultural deste país, sempre tão proeminente e rival da disputa do desenvolvimento da comunidade Sul-americana.

  • Ricardo Drago é Diretor Presidente da
    AGESBEC – Armazéns Gerais São Bernardo do Campo