Cargas em Portos Secos sinalizam “novo normal”

Por Ricardo Drago – Presidente da AGESBEC

Independentemente de ser o gestor de um Porto Seco, o AGESBEC – Armazéns Gerais São Bernardo do Campo, sempre defendo a remoção para a zona secundária como o melhor caminho aos importadores e exportadores. O trinômio segurança, agilidade e custo é cumprido em sua plenitude. E quem não quer isso no mercado de comércio internacional?

E os números de 2022, momento chamado pela sociedade de “novo normal”, apontam que eu estou no caminho certo.

Dados divulgados pela Alfândega da Receita Federal do Brasil em São Paulo – responsável por boa parte do Portos Secos no Estado de SP – mostram uma nova realidade sentida no perfil de desembaraço aduaneiro no Estado, como pode ser verificado no quadro abaixo:

  Qtde. de DI Janeiro-Julho

2021

Arrecadação de tributos COMEX

(R$ milhões)

Qtde. de DI

Janeiro-Julho

2022

Arrecadação  de tributos COMEX

(R$ milhões)

Aeroporto Int. de Guarulhos 164.352 3.043 184.821 2.783
Aeroporto Int. de Viracopos 239.171 6.905 228.705 6.641
Portos de Santos e de São Sebastião 279.516 25.528 270.053 24.497
Recintos de Zona Secundária (SP) 74.777 5.911 94.232 6.554
Estado de

São Paulo

757.816 41.387 777.811 40.475

Fonte: DW Aduaneiro (SISCOMEX)

Obs.: Arrecadação de tributos federais sobre o comércio exterior

 

Segundo o Órgão Federal, comparando-se os primeiros sete meses de 2022 ao mesmo período de 2021, para o Estado de SP, ocorreram 20 mil declarações de importação – DI a mais registradas e R$ 1 bilhão a menos de arrecadação de tributos federais sobre o comércio exterior. A “perda” de arrecadação está intimamente ligada às menores taxas de câmbio do período. Já o incremento, mesmo que percentualmente pequeno (2,6%), sinaliza a retomada do fluxo de comércio.

Gráficos publicados na Revista Desembaraça SP do SINDASP

Já no quadro acima, observa-se, em uma análise mais criteriosa da tabela, a mudança de comportamento em relação ao local desses desembaraços de importação. Vejam que o saldo de 20 mil DI a mais em SP não teve distribuição linear pelos principais pontos alfandegados. Ao passo que o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos – GRU registrou, sozinho, um aumento de 20 mil DI no período, o Aeroporto Internacional de Viracopos – VCP teve um decréscimo de cerca de 10 mil DI no mesmo intervalo. Da mesma forma, enquanto os recintos aduaneiros paulistas de zona secundária (Portos Secos e CLIA) somados também atingiram quase 20 mil DI a mais até agora em 2022, a atividade portuária na importação caiu também cerca de 10 mil DI.

Gráficos publicados na Revista Desembaraça SP do SINDASP

Por fim, diante de mais um desses cruzamentos de dados, nota-se, mesmo que em uma avaliação sem estudo científico, uma migração de cargas de alto valor agregado para os Portos Secos, da região de abrangência da Alfândega de SP, como é o caso da AGESBEC.

Minha leitura é que, assim como o “novo normal”, eles vieram para ficar, pois as vantagens de regimes aduaneiros especiais são inúmeras, mesmo que ainda não sejam de conhecimento de muitos embarcadores: apenas 45% das empresas se utilizam desses recursos no Brasil, como revelou uma pesquisa divulgada em agosto de 2022, pelas empresas Delloite e Becomex.

Ainda assim, identificamos alguns setores atentos a estas oportunidades, com o de Energia renovável – solar e eólica – indústrias de base, o automotivo e o metalúrgico.

Quem tiver interesse em conhecer mais sobre o tema pode nos procurar ou ainda consultar a legislação que preconiza a utilização do espaço. A Receita Federal do Brasil publicou, recentemente, a Instrução Normativa 2.111/2022, que atualizou as disposições sobre os portos secos de acordo com o Regulamento Aduaneiro (RA), o Acordo de Facilitação do Comércio (AFC) e a Convenção de Quioto Revisada. Ou ainda o Regulamento Aduaneiro (Decreto 6.759/2009), que define os portos secos como “recintos alfandegados de uso público nos quais são executadas operações de movimentação, armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro” (art. 11).

Ricardo Drago é Presidente da AGESBEC

 

O Cobre Chileno

Por Ricardo Drago – Presidente AGESBEC

 O Chile vive como outros países do continente sul-americano uma reorganização social, política e econômica.

Com uma economia fortemente voltada a extração mineral principalmente pelo cobre, famosa pela produção de vinhos, sem uma indústria de base e com forte fluxo de importação de bens e consumos já foi uma das economias mais sólidas do cone sul, mantendo por anos o maior índice de renda per capta do continente.

 

POLÍTICA

Entre transições de governos de direita e esquerda, tem mantido o equilíbrio do jogo político na divisão de momentos e que agora com um governo mais liberal e de esquerda tentou aprovar uma nova alteração da constituição que foi negada com base no referendo.

 

ECONOMIA

A economia chilena amarga os piores resultados das últimas décadas.

A reboque de todas as economias globais a inflação atingiu em junho 12,5% no acumulado em 12 meses, o maior valor desde 1994.

O peso chileno sofre grande desvalorização frente ao dólar, sendo a primeira vez na história que a marca dos mil pesos foi ultrapassada. Por trás desse cenário, especialistas apontam uma combinação de fatores domésticos e externos que agravaram o quadro inflacionário do país, indo desde a alta global dos combustíveis até uma incerteza política.

 

CAUSAS

A situação da economia do Chile, é uma combinação de exterior e interior, mas sem dúvida há um grande componente doméstico nessa inflação, o superaquecimento da economia chilena, com um forte crescimento do (PIB), refletindo estímulos fiscais “exagerados” concedidos pelo governo durante a pandemia, além da pressão de demanda, destacando um quadro de incerteza política e institucional no país, que começou em 2019, onde os chilenos foram às ruas demandando melhores condições de vida e uma nova Constituição, que fez o então presidente Piñera, convocar um referendo que aprovou a criação de uma Assembleia Constituinte. Somadas às incertezas quanto a aprovação da Constituição, e uma insatisfação do mercado com o seu conteúdo  a transição entre Piñera, de centro-direita, para o atual presidente, Gabriel Boric de esquerda com uma agenda de “profundas mudanças”, pretende aprovar uma proposta de aumento de carga tributária para financiar uma “agenda ambiciosa de gastos”, o que não foi bem recebido por investidores.

O cenário impacta diretamente no câmbio, com aumento de percepção de risco e desvalorização do peso, o que também piora a inflação, que com a forte queda nos preços do cobre (principal produto de exportação do Chile), o que desvalorizou a moeda, além das críticas do mercado à atuação do banco central chileno, com uma alta de juros menor que o esperado, o peso chileno despencou, e a autarquia precisou intervir no mercado de câmbio em meio à saída de capital estrangeiro, injetando dólares no mercado para conter a alta da moeda. A taxa chilena iniciou o ciclo de alta em 0,5% ao ano. Hoje, está em 9,75%, maior nível em 24 anos.

 

PERSPECTIVAS – Uma evolução positiva da taxa de câmbio aliviaria a situação atual do Chile, já que a transmissão de desvalorizações da moeda nos preços é elevada pelo forte volume de importações. Em um cenário de preços de custos altos pelo câmbio e demanda superaquecida, a inflação tende a não cair rapidamente sem que o BC atue de maneira a equilibrar o consumo, uma vez que não tem fraqueza de reservas internacionais, então pode se dar ao luxo de acomodar esse ajuste do câmbio reduzindo reservas, mas a política monetária precisa fazer o que tem que ser feito, tudo para que não se prolongue essa agonia e incerteza sobre o país.

O Tango Argentino

Por Ricardo Drago*

Tenho acompanhado a Economia Argentina a muitos anos, que em linhas gerais sofre os reflexos pela crise de crédito após ter dado vários calotes em títulos de credores internacionais e principalmente junto ao FMI, sem uma alternativa de curto prazo tenta rolar um problema até agora sem solução, passando do internacionalmente conhecido TANGO para mais uma TANGA financeira.

No histórico deste longo caminho que aflige a economia argentina, destaco o último grande impacto em 2001, quando declarou que não ia pagar US$ 100 bilhões de sua dívida pública, em 2005 houve uma renegociação e 90% dos credores que aceitaram a proposta, os outros 10% os chamados fundos abutres negaram e judicializaram, obrigando a Argentina a pagar.

Daí por diante a crise não parou e o reflexo se deu nas ações de governo, na politica fiscal, na crise econômica, no fluxo cambial, enfim na crise sistêmica que a cada ano deflagra o empobrecimento desta nação que já foi a mais ricas da América do Sul.

PREÇO CUIDADO” – Hoje a Argentina se depara com o tabelamento de preços, em Junho os preços subiram 5.3%, no acumulado de 12 meses a alta chega a 64%, que alerta para o pico de inflação que em 2003 era de 10.5% e em 2022 tende a 90.2% (projeção) e que em 5 anos elevou de 17,9% para 37.5% da população que vive abaixo da linha de pobreza.

MOEDA – A Crise Cambial é outro problema, a falta de moeda forte tem fragilizado ainda mais todo o processo de crise, as reservas cambiais que em 2003 era de 14.1 BI, o atual Governo recebeu em 2019 com 44.9 BI e agora em 2022 tem 32.4 BI (junho) (-28% de perdas em 3 anos).

Enquanto o Brasil com o Real em 1994, chegou ao marco de parear ao dólar, mantendo a flutuação do câmbio, e hoje após 28 anos, beiramos os R$5.20. A Argentina com o Peso em politica mais dura aplicou a mesma paridade de 1991 até 2003 mantendo o cambio fixo, o que fez sangrar a economia a época com quebra de contratos e ‘corralito’, mas depois teve superávits externos e fiscais, com estabilidade de preços, batendo recordes no Governo Macri, em 2017 alcançando PIB de US$642 BI, em 2018 atingiu US$66.2BI em Reservas Cambiais e agora no Governo de Alberto Fernandez após 31 anos da paridade monetária, o câmbio oficial é de ARS$135 por dólar e no paralelo Dólar Blue de ARS$200 por dólar, com inflação de 64%a.a. e Balança Comercial negativa com Déficit em Julho de USD-115 milhões.

É realmente um grande desafio gerir a atual crise e o sofrimento da sociedade argentina, é impactante pois não reflete o grande potencial social, econômico e cultural deste país, sempre tão proeminente e rival da disputa do desenvolvimento da comunidade Sul-americana.

  • Ricardo Drago é Diretor Presidente da
    AGESBEC – Armazéns Gerais São Bernardo do Campo

Crise Global

Por Ricardo Drago – AGESBEC

No Mundo hoje temos uma crise sistêmica que afeta a expectativa de normalidade esperada pós-COVID19.

Mal conseguimos retirar as máscaras e os ventos de instabilidade da Ásia e da Europa já começam a soprar novamente em nossa direção.

O cenário internacional está longe de um processo de estabilidade e, como se não bastasse o aumento dos fretes internacionais, a quebra da cadeia de suprimentos com a crise dos semicondutores que afeta as montadoras do ABC, o período de redução de produção na China pelos Jogos Olímpicos de Inverno e o feriado do Ano Novo Chinês, agora temos a instabilidade geopolítica na Ucrânia pela invasão russa e os novos casos de COVID na China com o bloqueio de Portos.

O que fazer?

Empreendedores e empresas que participam do comércio internacional tem uma oportunidade de ouro no fluxo de comércio exterior, avançando estoques em Regime de Entreposto Aduaneiro (Suspenção de Tributos).

Após uma análise especializada, conseguimos efetuar uma reorganização da cadeia de abastecimento na importação, exportação e logística local.

Com a disponibilidade dos estoques internacionais no Brasil, neutralizamos as incertezas de prazo e volume de entrega, reduzindo custos e mantendo a segurança do fluxo de caixa para o momento da venda, demonstrando as vantagens competitivas desde a negociação internacional até a entrega final.

Fique atento:

Reflexos da instabilidade politica e econômica GLOBAL

$ DÓLAR EM MOVIMENTO DE BAIXA – INFLAÇÃO EUA

$ AUMENTO DO PETRÓLEO – GUERRA NA UCRÂNIA

$ ALTA NAS COMMODITIES – CRISE DE OFERTA

$ FRETES INTERNACIONAIS – ADEQUAÇÃO DE OFERTA

Reflexos para o BRASIL

$ AUMENTO DA INFLAÇÃO – ALTA DOS COMBUSTÍVEIS

$ AUMENTO DOS JUROS – POLITICA BANCO CENTRAL

$ ATRATIVIDADE AO CAPTAL ESPECULATIVO – BOLSA

$ PRIVATIZAÇÕES – ATRAÇÃO INVESTIMENTO EXTERNO

⮚     ELEIÇÕES – MOVIMENTO POLITICO PARTIDARIO

⮚     GREVE DA RECEITA FEDERAL – TODAS AS ESFERAS

Comércio exterior do agronegócio: balanço de 2021 e perspectivas para 2022

Por Ana Cecília Kreter e Rafael Pastre

Apesar dos fenômenos climáticos adversos, que afetaram significativamente a agropecuária brasileira, as exportações do agronegócio cresceram 19,7% em valor, atingindo US$ 120,6 bilhões em 2021, novo recorde nacional. As importações também apresentaram aumento de 18,9%. Ainda assim, o agronegócio fechou o ano com um saldo positivo de US$ 105,1 bilhões. A alta dos preços internacionais das commodities teve papel relevante neste resultado. Entre os quinze principais produtos da pauta de exportação – que representaram 89,5% em 2021 –, todos apresentaram alta nos preços médios, alguns acima de 20%, rompendo a tendência de baixa dos anos anteriores. Em termos de quantidade, seis produtos apresentaram queda. Destaque para a carne bovina (-8,3%), decorrente das sanções da China, para o café (-3,6%), desempenho já esperado devido à bienalidade negativa, e para o milho (-40,7%), consequência da queda de safra brasileira. Quanto às importações, além dos produtos tradicionalmente importados pelo Brasil, como trigo, azeite de oliva e pescado, em 2021 o Brasil aumentou suas importações de soja e milho. A nota apresenta o ranking dos principais produtores, consumidores, exportadores e importadores mundiais, destacando a relevância do Brasil no fornecimento de várias commodities, como açúcar, soja, carnes e café. Em relação ao consumo, destaque para a China, que atualmente é o principal destino comercial brasileiro e que, apesar de ser também produtor, é dependente das importações. Por fim, o texto traz as perspectivas do setor para 2022, que estão baseadas em estimativas positivas em relação à produção, mas que dependerão principalmente das condições climáticas.

(Informações completas no site do IPEA)